segunda-feira, 7 de maio de 2012

Com + de 100 mortes, fazenda já tem até cemitério de animais na cidade de Pedro Alexandre

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Na fazenda Jurema, município de Pedro Alexandre, alto sertão baiano, próximo à divisa com o estado de Sergipe, de um rebanho de 1.300 cabeças bovinas, segundo o vaqueiro Clodoaldo Nascimento Marques, mais de 100 já morreram de fome nos últimos dias.
Os campos apinhados de animais mortos e muito caídos agonizantes remetem a uma cena de guerra. É doloroso e emociona até mesmo o coração mais empedernido, ver os animais se debatendo na luta contra a inevitável morte ao lado de carcaças visitadas por raros urubus, ave estranhamente de pouca presença na região.

Vaqueiros que apesar do convívio com a crueza do clima do sertão, não escondem a tristeza na lida com os animais em fase terminal. Eles improvisam jiraus (armação de madeira para deixar o animal em pé), ou panca (equipamento semelhante que pode ser de madeira, corda, couro ou esteira) com o mesmo objetivo.

Não há cruzes, mas próximo à casa sede da fazenda já existe um cemitério de animais  para onde são transportados os exemplares que morrem no curral que fica nas  imediações do casarão da propriedade rural que tem 10 mil tarefas de terra e ótima estrutura com bebedouros, cochos, currais e  50 tarefas com plantio de palma, além de muitas aguadas.

O maior problema nessa imensa propriedade é a falta de alimentos para os animais já que ainda existe água suficiente por conta de várias reservas hídricas, todavia o sol inclemente que atinge a região dizimou toda a pastagem. Galhos secos de arbustos, alguns pés de ouricuri, mandacaru e palma são o que resta para contrastar com o pó do solo seco e esturricado.

O fruto do mandacaru que é alimento de pássaros, também serve como parte do complemento alimentar dos animais na região e para muitas pessoas que enfrentam dificuldades na hora de fazer uma refeição.

Mais de 300 animais mortos

Pedro Alexandre município com 1.110 km quadrados no semi-árido baiano, tem uma população de 16.995 habitantes dos quais 14.209 vivem na zona rural o que significa a predominância da atividade agropecuária. Por isso mesmo o drama da seca tem contornos mais contundentes.

Não há dados estatísticos, mas estima-se que está acima de 300 o número de bovinos perdidos devido à falta de água e alimento. Todavia deve-se levar em conta, ainda, que sem safra de milho e feijão, nos últimos dois anos, o drama em que vivem os ruralistas de Pedro Alexandre é desesperador.

O município com um rebanho bovino de aproximadamente 30 mil animais, conta com 37 aguadas públicas de grande porte e tem a base econômica centrada na pecuária de corte. Com cerca de três mil famílias cadastradas no Programa Bolsa Família, o secretário de Administração e Finanças da Prefeitura de Pedro Alexandre, Petrônio Gomes, ex-prefeito do município por duas gestões, disse que a situação não é mais grave porque em seus dois mandatos como prefeito fez inúmeras aguadas de grande porte.

Sem receber qualquer tipo de ajuda dos governos estadual e federal até o momento, para o combate à seca, o secretário informou que a prefeitura distribuiu no mês passado, 2.840 cestas básicas entre as famílias necessitadas e vem atendendo os flagelados da seca mediante a utilização de dois carros-pipa pagos pelo município e ainda vem fazendo limpeza e algumas aguadas.

Lembra Petrônio Gomes que os poços artesianos perfurados pela CERB continuam sem funcionar por falta de manutenção ou de maquinas. O governo federal liberou através da CONAB, para Pedro Alexandre 150 sacas de feijão e quatro mil quilos de arroz, para que fossem distribuídos com os flagelados da seca, “só que até o momento nada chegou em  Pedro Alexandre“ garante o secretário.

Mandacaru é alimento para o gado e homem também

“Acredito que nem a presidente do Brasil, nem o governador do estado, já comeram o fruto dos cactos - mandacaru e palma - para sobreviver, mas, nós sertanejos, estamos comendo para não morrer de fome. Chega de tanta propaganda para a liberação dos recursos no combate à seca, porque precisamos é de ações emergenciais e não de promessas e conversa fiada todos os dias. Se não fosse o ato humanitário do prefeito Pedro Pereira Gomes (PSDB) que vem nos socorrendo de forma paliativa com água potável e cestas básicas, não sei o que seria da gente. A esperança de todos é que o nosso bom Deus possa nos mandar chuvas em abundância, porque só ele tem esse poder de nos tirar desse sofrimento”, diz emocionado o lavrador José Batista dos Santos Filho, depois de comer um fruto de mandacaru durante o almoço, com o amigo e vizinho, Manoel, na comunidade de Cabeça da Vaca.

Sem saber exatamente a idade - pouco mais de 70 anos - e com os olhos lacrimejando, a sertaneja, Maria Francisca de Jesus, também moradora da região de Cabeça da Vaca, disse que anda todos os dias vários quilômetros a pé, em busca de uma lata d’água para dar aos animais. “Eu já enfrentei muitos períodos de estiagem, mas igual a esse nunca vi em minha vida. Os animais estão se acabando de fome, quem tem mandacaru se vale do cacto para alimentar os bichos e quem não tem como eu, pega o pouco do dinheiro que recebe da aposentadoria para comprar rações para os bichinhos e não sei o que seria de minha vida se não fosse esses trocadinhos” diz.

A doméstica Everalda Nunes de Souza, 47 anos, moradora da fazenda São Pedro, que já perdeu cinco cabeças de animais e tem uma na panca, garante que a seca é preocupante e “se Deus não tiver compaixão da gente, vai morrer tudo porque não temos condições de comprar ração e muito menos água para salvar os animais que estão caindo. Quem tem palma e mandacaru, menos mal, mas quem não tem o jeito é comprar ou vê os animais morrerem a míngua na porta da casa, do curral ou na roça, já que água e comida não existem. O mesmo acontece com a oferta de trabalho. A nossa situação é muito difícil já que nem o seguro safra nós não tivemos direito”. 

As dificuldades são extremas o lavrador Aquino Salves de Souza, da fazenda Lagoa da Bezerra destaca que a aquisição de uma tarefa de palma custa de R$ 1 a 4 mil, a depender da qualidade do produto. Sem recursos para pagar uma maquina para limpar o tanque de sua propriedade o agricultor Silvano Silva Filho, morador do povoado de Malhada Nova, juntou a família com bacias, carros de mão e latas para retirar o barro seco do fundo do tanque.

Por Pedro Oliveira – Tribuna da Bahia / Sucursal Regional do Sisal em Coité (Foto: Pedro Oliveira).

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